Abençoado seja o terminado da obra, o acaso, o coito, o derramamento divino do branco, o serramento da noite e da prece. Abandone a poesia, antes que se faça pó e açoite, antes da palavra finda, antes da aurora, do nada, do vazio, do caimento da gota, do suor em lençol maculado, do rompimento do hímen , do desligamento dos dedos, do sopro no lábio deixado, antes do ponto, do cerzido e do que é acabamento. Abandone o epílogo e as molhaduras das chuvas e todas as umidades da perda da inocência .
Abençoado seja o silêncio ao final da frase de adeus, o término ressequido de resgate de ilusão, a saliva restante, o gosto do gozo. Abandone o recato do pranto, mostre-se além da casca, do pelo, da pele acinzentada, amornada de amenidades, que nada fala, que arremeda, caricata, que finge sentimentalidades de ausências, que ao final, só é fria, distante e vaga, paira acima do chão , na berlinda das perdições e do desfiladeiro.
Há mais ruído, que os podres significados deste escuro confinamento.
Abençoado seja o que cala em céu de fuligem e manhã.
Já me dei por acabado a hora da oferenda.
Verso de mão vazia.

Lu Genez

