Diante daquela imensidão azul
e com as ondas tecendo rendas
sobre a areia cansada a se renovar,
estávamos como quem está a sonhar.
Os olhos fechados , as mãos entrelaçadas
e os lábios mudos em mágica comunhão.
Porque a felicidade, às vezes, de regozijo
saltita, mas também emudece de fruição.
Não sei quanto tempo durou aquele
estado de enlevados reféns, até que
de qualquer não-sei-que os olhos abrimos
e as bocas também.
Já não sentíamos a brisa marinha
e seu sopro perfeito
acariciando os nossos rostos contrafeitos.
Só queríamos sair e cada um com a liberdade
de ser senhor(a) da sua própria verdade.
Separamo-nos. Que noite angustiada!
E pensar que fora tudo por um nada!
Um motivo tão banal, nem como o
mar profundo, nem como grande o mundo...
Mas, passada a trevosa noite,
como sempre, vem o dia radiante .
E sem que meu coração esperasse
tu chegaste e me sorriste confiante.
Tivemos então a nossa grande certeza:
Simplesmente eu agitada compreendi:
Como poderia eu ficar sem ti ?
E com precisão tu viste enfim :
Como poderias viver sem mim?